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Pesquisa da UFV aponta que mineração em Minas Gerais ameaça morcegos frugívoros

Os resultados da pesquisa destacaram efeitos prejudiciais nos tecidos desses mamíferos, em especial nas espécies Artibeus lituratus e Sturnira lilium, alvos principais do estudo. 

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) revelou que as operações mineradoras em Minas Gerais representam um risco para o bem-estar e a sobrevivência dos morcegos frugívoros, que dependem da flora da Mata Atlântica para sua alimentação. Pesquisadores do Departamento de Biologia Animal, sob a coordenação da professora Mariella Bontempo Duca de Freitas, conduziram o estudo, divulgado na revista especializada “Journal of Hazardous Materials”.

O animal foi escolhido para ser analisado devido a serem essenciais para a recuperação dos ecossistemas florestais, desempenharem funções vitais como a dispersão de sementes, a polinização e o controle de pragas agrícolas e vetores de doenças, ao mesmo tempo que se nutrem de frutas. O artigo completo pode ser lido clicando aqui

Os resultados da pesquisa destacaram efeitos prejudiciais nos tecidos desses mamíferos, em especial nas espécies Artibeus lituratus e Sturnira lilium, alvos principais do estudo. 

De acordo com os dados, as espécies estão entre as mais comuns na Mata Atlântica e contribuem ativamente para a regeneração florestal. 

“A ciência já sabe que alguns animais desempenham papéis fundamentais para a regeneração de ambientes florestais degradados. Esse é o caso dos morcegos que, além disso, também executam outros papéis ecológicos com implicações de longo alcance. Como a maioria das espécies é insetívora, eles ajudam no controle das populações de insetos, inclusive daqueles causadores de pragas agrícolas e vetores de doenças”, diz o estudo. 

Ainda segundo o artigo, o papel desempenhado pelos animais também proporciona uma economia para os setores agrícola e da saúde pública do estado.

“Com isso, podem representar uma economia de milhões de reais, a cada ano, para os setores agrícola e de saúde pública. Para os pesquisadores, compreender o impacto ambiental da mineração nas espécies-chave estudadas é fundamental para os esforços de conservação destas espécies”. 

O estudo abordou áreas situadas no Sudeste de Minas Gerais. As regiões de mineração de alumínio (bauxita) e a área de controle estão localizadas na Zona da Mata, enquanto a área de mineração de ferro está mais próxima da região metropolitana. No total, foram consideradas três áreas: uma como referência (fragmento florestal preservado nas proximidades do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro) e duas áreas de mineração, uma de ferro e outra de alumínio.

Na análise da espécie Artibeus lituratus, foram investigados os impactos do minério de ferro, enquanto na Sturnira lilium foram examinados os efeitos do minério de alumínio. Em ambos os cenários, os morcegos foram comparados com indivíduos de um remanescente preservado da Mata Atlântica. 

Os Artibeus lituratus provenientes das áreas de mineração de minério de ferro demonstraram maior acúmulo de alumínio, cálcio, ferro e bário no fígado, além de cálcio e ferro no tecido muscular. Além disso, exibiram evidências de danos oxidativos mais significativos no fígado e nos rins, relacionados à fibrose hepática e inflamação renal. 

Por outro lado, os morcegos Sturnira lilium oriundos das regiões de mineração de minério de alumínio apresentaram maior acúmulo de cálcio e bário no fígado, bem como cálcio, zinco e bário no tecido muscular, e evidências mais acentuadas de estresse oxidativo no cérebro, juntamente com fibrose hepática e inflamação renal.

 A pesquisa aponta que é  crucial a adoção de medidas imediatas para proteger essas espécies vitais e os ecossistemas que elas sustentam. O artigo também destaca a urgência na adoção de regulamentações mais rigorosas visando mitigar a poluição oriunda das atividades mineradoras, além da criação de áreas protegidas para salvaguardar os habitats naturais dos morcegos.

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Lorena Cordeiro

Lorena Cordeiro

Jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP. Repórter no Portal Bem Minas desde 2020 nas editorias Meio Ambiente, Mineração e Energias Renováveis.

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