Na última quinta-feira (16), um temporal em Belo Horizonte expôs a vulnerabilidade urbana diante de eventos climáticos extremos. Em apenas duas horas, a chuva alcançou 15% do volume previsto para todo o mês de janeiro, resultando em ruas transbordadas e avenidas interditadas. A situação reflete a urgência em adaptar as cidades para lidar com os impactos do aquecimento global.
Mudanças climáticas e responsabilidade humana
Eventos extremos como secas prolongadas, ondas de calor e chuvas intensas tornaram-se frequentes devido ao agravamento do aquecimento global, impulsionado por ações humanas. Segundo Maraluce Custódio, professora de direito da Escola Superior Dom Helder Câmara, o planeta ultrapassou o ciclo natural desses fenômenos. “Nós saímos do ciclo natural e estamos enfrentando perigos reais ao planeta”, declarou. A professora também destacou a necessidade de investir em tecnologia e especialistas ambientais para a gestão eficiente das cidades.
Cidades resilientes: um novo paradigma urbano
Para enfrentar os desafios climáticos, as cidades precisam se tornar resilientes, capazes de suportar e reagir a eventos extremos sem colocar em risco a saúde e o bem-estar da população. Leonardo Santos, presidente do Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades (IPGC), enfatizou a importância da coordenação entre órgãos públicos e privados para desenvolver estratégias inteligentes e sustentáveis.
Exemplos como o Centro de Operações Rio (COR), criado após enchentes no Rio de Janeiro em 2010, ilustram como monitoramento e planejamento integrado podem mitigar danos e salvar vidas. “Sem a colaboração da população, empresas e órgãos midiáticos, o governo não consegue agir sozinho”, afirmou Ana Carla Prado, chefe de planejamento do COR.
A urbanização e suas consequências
A ocupação urbana desordenada, muitas vezes ignorando aspectos naturais como cursos d’água e relevos, é um dos fatores que agravam os impactos das mudanças climáticas. Em Belo Horizonte, a canalização de rios e a localização entre montanhas dificultam o escoamento das águas, resultando em alagamentos frequentes. No Rio de Janeiro, a combinação de geografia costeira, montanhas e ocupação irregular torna a cidade especialmente vulnerável.
Alexandre Nagazawa, arquiteto urbanista, ressaltou que a negligência aos saberes milenares contribui para tragédias. “Os povos originários já sabiam evitar áreas de inundação. Nossa urbanização foi contrária a esse conhecimento”, explicou.
O caminho para o futuro
Para construir cidades mais preparadas, especialistas sugerem planos de ação climática que envolvam mapeamento de áreas vulneráveis, monitoramento constante e integração entre setores. “É fundamental olhar para todos os lados, porque tudo está interligado”, concluiu Ana Carla Prado.
As recentes tragédias em todo o Brasil reforçam a urgência de adotar medidas sustentáveis e coordenadas. A sobrevivência das cidades em um cenário de clima extremo depende de ações que conciliem tecnologia, planejamento inteligente e respeito às características naturais de cada região.