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Comam autoriza corte de árvores em BH para realização de etapa da Stock Car

Para o evento também serão removidos canteiros centrais, passeios, passagens elevadas para pedestres, ilhas de semáforos e postes, além de alargamento de vias e construção de muros na Avenida Carlos Luz.

Na última quarta-feira (21) o Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam) aprovou a remoção de 63 árvores nas proximidades do Mineirão, na Região da Pampulha, para a realização de uma etapa da Stock Car em Belo Horizonte. Desde a votação, políticos e organizações ambientais expressaram descontentamento com o resultado, que teve dez favoráveis e apenas dois votos contra. Os votos vencidos foram de Marcos Righi e Adriano Manetta. 

O evento foi firmado em dezembro, quando a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) fechou um acordo com empresa para que a cidade receba anualmente a corrida pelo período de cinco anos.  A primeira edição está prevista para os dias 15 e 18 de agosto de 2024. De acordo com a PBH, para que a corrida seja realizada ainda é necessário passar pelo processo de regulação de licenciamento para eventos, conduzido pela Secretaria Municipal de Política Urbana (SMPU). As corridas devem ocorrer ao redor do Estádio Mineirão, nas avenidas Carlos Luz, Abraão Caram, Coronel Oscar Paschoal e Rei Pelé.

Entre os políticos engajados na causa está a deputada federal Duda Salabert (PDT), que utilizou suas redes sociais para criticar o prefeito Fuad Noman (PSD) e anunciou ter protocolado um mandado de segurança na Justiça com o intuito de impedir a remoção das árvores nas proximidades do Mineirão.

A deputada também interpôs uma ação no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) com o objetivo de interromper uma licitação que prevê a alocação de mais de R$20 milhões em recursos para viabilizar a realização da prova na capital mineira. 

Duda destacou que não é contra a realização da prova e reconheceu o poder econômico do evento. “Só não podemos permitir que a prefeitura faça, de modo irresponsável, uma licitação repleta de irregularidades para matar quase uma centena de árvores e gerar impactos socioambientais irreparáveis em Belo Horizonte”, disse.

 

Para Marimar Poblet, diretora do Sindicato dos Arquitetos e Urbanistas no Estado de Minas Gerais (SINARQ-MG), o evento na região da Pampulha é inadequado por diversos motivos, dentre eles está fato da Pampulha ser Patrimônio da Humanidade, a crise climática e a preservação do meio ambiente. 

“A Pampulha é Patrimônio da Humanidade, possui uma comissão instituída por exigência da Unesco, formada pelo IPHAN, IEPHA e pela Diretoria Municipal de Patrimônio Histórico Cultural, eles deveriam ter sido consultados”, disse.

“Em meio a uma crise climática a arborização é o principal antídoto para o aquecimento. Existe uma correlação entre arborização e o surto de dengue, conforme esclarecido por especialistas. O conjunto arbóreo das avenidas, onde está sendo proposto o evento, contorna um corredor ecológico que consta no mapa ambiental do Plano Diretor, este corredor constitui uma conexão entre as matas dos parques e a lagoa da Pampulha. As árvores são habitat natural de diversas espécies de animais, da avifauna, pequenos mamíferos e microrganismos diversos, além de serem o caminho por onde a fauna circula movimentando-se pelo espaço urbano “, completou a diretora. 

Como medida compensatória serão plantadas 688 árvores na cidade e a própria empresa fará a manutenção das mudas por cinco anos. Segundo informações fornecidas pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a justificativa para a realização do evento nas proximidades do Mineirão é o retorno financeiro estimado em R$285 milhões para o estado ao longo dos próximos cinco anos. Esse montante seria impulsionado pelos gastos dos aproximadamente 70 mil espectadores esperados para o evento e impostos.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) enfatizou que o corte de árvores é sempre negativo para o meio ambiente e ainda citou os problemas sonoros que a corrida pode causar, devido a proximidade do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“Essa porção é mais sensível por se tratar de um local de tratamento médico veterinário e haver poucas árvores que permitam um mínimo de isolamento acústico, faz se necessário lembrar que os animais ali em tratamento possuem uma acuidade auditiva muito superior à dos seres humanos” diz um trecho da nota. 

Além disso, a avaliação menciona que para preparar a região para a corrida serão removidos canteiros centrais, passeios, passagens elevadas para pedestres, ilhas de semáforos e postes, além de alargamento de vias e construção de muros na Avenida Carlos Luz.

Confira aqui o parecer técnico completo.

Região já sofreu outros cortes de árvores

Durante a preparação para a Copa do Mundo de 2014 o Estádio Mineirão passou por uma significativa reforma para atender aos padrões exigidos para sediar os jogos do torneio. Essa reforma, apesar de envolver melhorias nas instalações do estádio, também causou intervenções em seu entorno, o que incluiu cortes de 777  árvores.

Os cortes de árvores para a reforma do Mineirão geraram polêmica e preocupação entre os ambientalistas e a população local. Muitas dessas árvores eram antigas e representavam parte importante do patrimônio natural da região. Além disso, havia temores relacionados ao impacto ambiental desses cortes, como a redução da cobertura vegetal e o consequente aumento do calor urbano, bem como a perda de habitat para a fauna local.

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Lorena Cordeiro

Lorena Cordeiro

Jornalista e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP. Repórter no Portal Bem Minas desde 2020 nas editorias Meio Ambiente, Mineração e Energias Renováveis.

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