O quinto Seminário Técnico “Crise Climática em MG: Desafios na Convivência com a Seca e a Chuva Extrema” foi realizado na última sexta-feira (14), na Unimontes, em Montes Claros, pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
O evento reuniu pesquisadores, especialistas, representantes da sociedade civil e do setor produtivo, além de parlamentares e lideranças regionais. O objetivo foi analisar desafios e formular diretrizes para políticas públicas que visem à prevenção e convivência com eventos climáticos extremos e seus impactos.
Durante o seminário, foi destacada a contribuição significativa do Norte de Minas para a transição energética no Estado, com mais de 90% dos investimentos em energia solar fotovoltaica.
Relatório Estadual
A ação discutiu a seca no Norte de Minas e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri, a desertificação, as tecnologias de acesso à água, as inundações nas grandes cidades, a energia limpa, a adaptação da economia, especialmente a agrícola, e a proteção à população e ao meio ambiente.
O seminário seguirá para a sétima e última reunião regional em Unaí (Noroeste) nesta sexta-feira (21), antes da etapa final em Belo Horizonte, em agosto.
“Um relatório estadual será concluído para o início de ações no segundo semestre, com uma agenda direcionada à Conferência Climática da ONU – COP 30, em Belém (PA), em 2025”, destacou Gil Pereira, presidente da Comissão de Minas e Energia da ALMG.
Região é polo de energia solar
Gil Pereira (PSD-MG) ressaltou que, apesar das dificuldades, o Norte de Minas tem contribuído para a transição energética no Estado, respondendo por mais de 90% dos investimentos em energia limpa, especialmente a solar fotovoltaica, essencial à preservação do meio ambiente e fator significativo de economia para o consumidor e o setor produtivo.
Panorama climatológico
Durante uma apresentação sobre o panorama climatológico da região, o professor Mário Marcos do Espírito Santo, do Departamento de Biologia Geral da Unimontes, alertou que, nos últimos 40 anos, o nível dos rios diminuiu 20% por década. Nesse período, houve uma redução de 7% no volume de chuvas e um aumento de 18% na seca hidrológica (1979-2016).
A área de clima semiárido no Brasil se expandiu, conforme a revisão territorial feita em 2024. A nova delimitação revela que a mesorregião do Norte de Minas, conforme classificação do IBGE, está agora totalmente incluída na área do semiárido, que duplicou em tamanho nos últimos cinco anos. Além disso, muitos municípios, como Gameleiras, Espinosa e Mamonas, passaram a ser classificados como tendo clima árido.
Tais dados fazem parte de um estudo realizado por professores da Universidade de São Paulo (USP), e do Instituto Federal de Januária, utilizando informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) sobre estações climáticas na região.
Elevação da temperatura
Outro estudo mencionado pelo professor Mário Marcos, realizado no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Januária, revelou um aumento sem precedentes na temperatura ao longo dos últimos 70 anos.
A pesquisa focou na Caverna da Onça, que se mantém preservada e sem impactos da presença humana. Até 1950, a temperatura na caverna era estável. No entanto, desde então, houve um aumento de 3 graus, indicando uma tendência de elevação, com efeitos ainda mais pronunciados em áreas já ocupadas pelo homem.
“Apesar das variações anuais, a partir de 1950 a temperatura vem aumentando, sendo preciso considerar também o efeito humano na questão. Não há mais tempo para o negacionismo climático, e, no Norte de Minas, isso fica muito claro”, destacou o pesquisador.